A primeira mulher no laticínio do Brasil: Dra. Pautilha Guimarães de Carvalho 2i3qs

Vamos homenagear todas as grandes mulheres que fazem parte do cenário lácteo falando sobre a primeira mulher que iniciou seus estudos e permaneceu ativa por mais de 60 anos como um grande exemplo de trabalho, dedicação e empoderamento. 2p1b5k

2365 Views 5 Min

Luiza Carvalhaes de Albuquerque

07/03/2023 23h55 - Atualizado em 07/03/2023 às 23h55

A primeira mulher no laticínio do Brasil: Dra. Pautilha Guimarães de Carvalho

Nayara Ferreira Greco

Trata-se da Dra. Pautilha Guimarães de Carvalho, que foi a pioneira neste segmento. Nasceu em 21 de dezembro de 1921 na Fazenda Estrela do Norte, Bocaina de Minas – MG, a professora e química, Pautilha Guimarães, foi a primeira mulher do Brasil e se tornar laticinista e a lecionar a matéria no Instituto de Laticínios Cândido Tostes, nos anos 40. Em 1948, fez o Curso de Especialização em Laticínios no Instituto de Laticínios Cândido Tostes.

Primeira Semana do Laticinista do IlCT, em 1950. Foto dos participantes tendo a esquerda Pautilha e Palmira Guimarães de Carvalho.

Em 1950, fundou a Escola Típica Rural em Rio Preto, Município de Resende, RJ, onde criou o Centro Social Rural e ministrava aulas para os filhos de colonos, fazendeiros sobre a fabricação dos derivados do leite. Organizou mais de 50 Clubes Agrícolas nas Escolas Rurais de Rio Claro e Barra Mansa – RJ, patrocinados pelo Ministério da Agricultura.

Curso de Fabricação de Derivados de Leite nas Escolas Agrícolas Rurais. Década de 1950

De 1968 a 1975, coordenou o assessoramento tecnológico na elaboração de inúmeros projetos para implantação de novas indústrias de laticínios pela ABCAR, hoje EMATER. Coordenou também a elaboração de mais de 100 diagnósticos, projetos e ampliações de fábricas de laticínios em todos os estados brasileiros pelo SEBRAE através de sua empresa COAL – Centro de Organização e Assistência Laticinista Ltda, sediada em Juiz de Fora – MG. Elaborou cerca de 150 projetos de usinas, fábricas de laticínios de pequeno, grande e médio e pequeno porte.

Um de seus grandes projetos foi a coordenação do Diagnóstico sobre infraestrutura de processamento de leite das unidades que abasteciam as capitais e cidades brasileiras para o BNDES. Este trabalho serviu de base para implantação do Programa Nacional de Leite para Crianças Carentes, pelo Governo Federal em 1986.

Foi Conselheira da Fundação José Carvalho, em Entre Rios - BA, desde a sua fundação. Lembrava sempre o irável pensamento de seu Presidente José Carvalho Filho: “Morrer rico é falta de imaginação, É muito melhor ser um pequeno sócio de Deus.”

A Câmara Municipal de Juiz de Foras – MG aprovou dois títulos de cidadania honorária e um de benemérita por levar a cidade a ser conhecida no cenário nacional. Pela LEI Nº 11.001 – de 06 de outubro de 2005, o Vereador Bruno Siqueira Dispõe sancionou e aprovou sobre concessão de Título de Cidadã Honorária de Juiz de Fora a Ilustríssima Senhora PAUTILHA GUIMARÃES. Recebeu, também, o MÉRITO COMENDADOR HENRIQUE GUILHERME FERNANDO HALFELD

Instituído em 1973, através da Lei 4.496, o Mérito Comendador Henrique Halfeld tem como finalidade distinguir o cidadão que se notabilizar nos mais diversos campos da atividade humana por relevantes e comprovados serviços prestados à coletividade de Juiz de Fora. A Medalha simboliza o maior reconhecimento de Juiz de Fora a pessoas que se destacaram na defesa dos interesses culturais, sociais, econômicos, políticos e humanitários da cidade. Sempre com critério e ouvindo os integrantes do Conselho do Mérito, a quem compete fixar as diretrizes para a concessão da Medalha, a Prefeitura de Juiz de Fora homenageia, na data de aniversário da cidade, os agraciados por sua atuação em benefício da comunidade. Uma de suas maiores homenagens foi dada pelo Governo do Estado de Minas Gerais, em nome do Povo de Juiz de Fora, com o Troféu Mulheres para um Novo Século. Em 18 de Maio de 2005.

Sua irmã, Palmyra Guimarães de Carvalho também foi a primeira mulher a se formar no Curso Técnico em Leite e Derivados na mesma Institutição em 1951. Depois fez curso superior em Estudos Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Também formou-se em Educação Rural pela Fundação Helena Antipoff, no município de Ibirité – MG. Foi professora de Laticínios, Indústrias Rurais, Geografia e História em escolas rurais por diversos anos.

Palmira Guimarães de Carvalho no trote de calouros em 1951 no Epamig/ILCT. Fotos de José Jacir de Meneses

Pautilha Guimarães marcou época e se destacou em seu meio com criatividade, competência e técnica. Seu esforço pessoal e profissional nesta área rendeu-lhe a satisfação do sonho realizado, a construção de uma escola para crianças de sua região, e proporcionou, a inúmeros outros trabalhadores e produtores rurais, a oportunidade da realização profissional.

Foi uma mulher especial, que sempre se manteve à frente de seu tempo. Identificou a importância de valorização das pequenas unidades destinadas a derivados do leite com linhas de produtos diversificados. Entendeu que a qualidade é o resultado de um trabalho cuidadoso, ao longo de todo o processo de produção, quando muitos ainda julgavam pode garanti-la em sumárias inspeções do produto final. Firmou-se como uma profissional respeitada num tempo e num mercado majoritariamente masculino.

Trabalhou até os 88 anos, viajando por todo o país prestando assessoria na montagem de novos laticínios. Até sua aposentadoria ainda era consultora para assuntos de leite e derivados e professora desses cursos para produtores rurais em todo o Brasil, treinando cerca de 800 pessoas. Faleceu em 18 de Maio de 2016, aos 95 anos, em sua fazenda em Bocaina de Minas.

Esta senhora é considerada uma lenda nacional e referência para a trajetória de conquistas das mulheres brasileiras, em especial as do campo, rompendo preconceitos e as jornadas intensas e abusivas de trabalho. Uma mulher ímpar que soube viver com generosidade e compromisso social. Um exemplo de vida, de dedicação e de amor. Um exemplo de Mulher.